Em meio aos desafios que o agronegócio enfrenta, o conselheiro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nilson Leitão, não poupou críticas ao governo federal. Ele cobrou avanços em pautas estruturantes, como a definição de regras claras sobre propriedade rural, questões indígenas e reforma agrária, e atacou a postura do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que recentemente defendeu a taxação de importações como uma “oportunidade” para o setor.
“Isso é como dizer que o ladrão que roubou sua TV te deu a chance de comprar uma nova. Que conversa é essa?”, ironizou Leitão, em tom de indignação.
O representante do agro destacou que a falta de segurança jurídica e a sucessão de governos que adiam decisões cruciais têm prejudicado o campo.
“Perdemos a chance de modernizar nossas leis. Cada administração que passa empurra o problema com a barriga, e o produtor rural fica à mercê da instabilidade”, afirmou.
Para ele, é urgente resolver de vez questões como a demarcação de terras indígenas e a reforma agrária, mas de forma que garanta direitos tanto aos produtores quanto às comunidades tradicionais.
Sobre a recente polêmica envolvendo Mercadante, que sugeriu que o aumento de tarifas poderia beneficiar o agronegócio, Leitão destacou que taxação boa é a que não existe. Ele lembrou que o Brasil já tem uma das cargas tributárias mais pesadas do mundo e que qualquer aumento, por menor que seja, pode ser a gota d’água para o produtor médio.
“Falam do agro como se fosse um mar de brigadeiro, mas a realidade é dura: faltam estradas, logística cara, seguro rural insuficiente. Um aumento de 1% ou 2% quebra quem sustenta a produção deste país”, alertou.
Apesar de reconhecer a força da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Leitão admitiu que nem sempre há união entre os parlamentares do setor. Alguns ainda usam a bandeira do agro para se promover, mas na hora de votar, viram as costas.
“O caminho é o convencimento diário, mostrando que o que é bom para o campo é bom para o Brasil”.
Questionado sobre o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), Leitão evitou confronto direto, mas deixou claro que espera mais firmeza na defesa do setor. “O agro não precisa de discurso. Precisa de ação”, resumiu.