A Polícia Civil de Mato Grosso, com apoio do Tribunal de Justiça (TJMT), deflagrou na manhã desta quarta-feira (30) a Operação Sepulcro Caiado, para desmantelar um esquema criminoso sofisticado que fraudava processos judiciais e pode ter causado prejuízos superiores a R$ 21 milhões aos cofres públicos.
No total, foram 160 ordens judiciais cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande e Marília (SP), incluindo 11 mandados de prisão preventiva, 22 de busca e apreensão, 16 bloqueios judiciais, além da quebra de sigilos bancário e fiscal de 46 pessoas e o sequestro de 18 veículos e 48 imóveis.
As investigações, conduzidas pela Delegacia de Estelionato de Cuiabá, revelaram um esquema operado por advogados, empresários e servidores do Poder Judiciário, que simulavam cobranças judiciais e falsificavam comprovantes de pagamento para liberar valores por meio de alvarás judiciais.
Presos pela Polícia Civil
Entre os alvos de prisão preventiva, estão nomes de destaque, incluindo servidores públicos e familiares ligados entre si:
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Wagner Vasconcelos de Moraes
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Melissa França Praeiro Vasconcelos de Moraes
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João Gustavo Ricci Volpato
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Luiza Rios Ricci Volpato
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Augusto Frederico Ricci Volpato
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Rodrigo Moreira Marinho
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Themis Lessa da Silva
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João Miguel da Costa Neto
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Régis Poderoso de Souza
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Mauro Ferreira Filho
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Denise Alonso
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Mandados de busca e apreensão
Além dos presos, também foram alvos de busca:
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O Escritório de Advocacia França e Moraes, vinculado a Wagner e Melissa Moraes
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Flávia de Oliveira Santos Volpato
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Júlia Maria Assis Asckar Volpato
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As empresas RV Empresa de Cobrança Ltda e Labor Fomento Mercantil Ltda
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Guilherme Porto Corral, Keyyly Gonçalves Martinez, Eva da Guia Magalhães e Cláudia Regina Dias de Amorim Del Barco Correa
Como funcionava o esquema
A organização ajuizava ações judiciais de cobrança falsas ou com valores inflados, usava advogados fantasmas para representar vítimas e forjava comprovantes de depósitos judiciais. Um servidor do Judiciário, então, migrava valores da conta única do TJMT para o processo específico, o que permitia a emissão de alvarás fraudulentos.
Em alguns casos, vítimas sequer sabiam da existência dos processos. Há registros de ações com valores simulados de até R$ 1,8 milhão, quando o real empréstimo não ultrapassava R$ 100 mil. Uma das vítimas era interditada judicialmente, o que torna o caso ainda mais grave.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso auxiliou na detecção de movimentações irregulares dentro do sistema e mudou a metodologia de transferência de valores judiciais em 2023, o que impediu a continuidade das fraudes no mesmo formato. A apuração agora se concentra na localização de novos envolvidos e na ampliação do número de processos identificados – atualmente, são 17 ações fraudulentas entre 2018 e 2022.
Mais detalhes sobre o caso serão apresentados em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (30), às 9h30, na Delegacia de Estelionato de Cuiabá, na Avenida Dante Martins de Oliveira, bairro Planalto.
O nome da operação faz alusão à expressão bíblica que denuncia a hipocrisia e corrupção camufladas pela aparência de integridade — como pessoas que se mostram corretas externamente, mas são profundamente corrompidas por dentro.
Jornalista: Mika Sbardelott
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