sábado, julho 12, 2025

Cirurgião é indiciado após morte de paciente em clínica sem UTI

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A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu o inquérito que apurou a morte da estudante Thayane Oliveira Sousa Leal, de 35 anos, ocorrida durante uma cirurgia plástica em uma clínica de Cuiabá, e indiciou o médico cirurgião Rodrigo Bernardino por homicídio culposo — quando não há intenção de matar, mas existe negligência, imprudência ou imperícia.

O procedimento aconteceu no dia 23 de outubro de 2024, na Valore Day Hospital, onde Thayane foi internada para realizar uma abdominoplastia e uma lipoaspiração. Segundo o inquérito, a paciente sofreu uma parada cardiorrespiratória durante a cirurgia. Ela foi reanimada no centro cirúrgico, mas, como a clínica não possuía Unidade de Terapia Intensiva (UTI), foi encaminhada a outro hospital. Durante o trajeto, teve uma segunda parada e, apesar das tentativas de reanimação, não resistiu.

Ausência de UTI foi determinante

A investigação, conduzida pelo delegado Marcelo Carvalho, identificou que a falta de estrutura hospitalar adequada, especialmente a ausência de UTI na clínica onde o procedimento foi realizado, contribuiu decisivamente para o desfecho trágico. Para a Polícia Civil, houve negligência médica por parte do cirurgião plástico, que foi indiciado formalmente.

“A paciente não deveria ter sido submetida a dois procedimentos invasivos em um ambiente sem suporte intensivo. A escolha do local, a condução da cirurgia e o pós-operatório imediato mostraram falhas”, destacou o delegado.

Relatos e laudos confirmam conduta negligente

Durante a apuração, foram ouvidos o marido da vítimafuncionários da clínicaanestesistasenfermeiros e médicos envolvidos. Todos afirmaram que os exames pré-operatórios estavam normais e que a cirurgia transcorria sem intercorrências até o momento da parada cardíaca.

A médica anestesiologista relatou que, já no fim da cirurgia, com a paciente de bruços, os sinais vitais caíram de forma súbita. A equipe reanimou Thayane e a estabilizou, mas, durante o transporte, ela teve nova parada cardiorrespiratória.

O cirurgião alegou que o procedimento foi realizado normalmente e que não houve perfuração ou erro técnico. No entanto, testemunhas confirmaram a ausência de comunicação com a família durante horas, até que o médico informasse o quadro grave da paciente.

Dinheiro devolvido após a morte

marido de Thayane, que aguardava informações da cirurgia, contou que foi orientado a esperar ligações periódicas, mas só recebeu a primeira — e depois ficou sem retorno. Após o falecimento, o hospital devolveu o valor pago pela cirurgia, o que foi considerado incomum e levantou questionamentos.

“Ela estava feliz, pronta, fez todos os exames. Não esperávamos isso. A estrutura era bonita, mas não tinha nem UTI. Foi um erro gravíssimo”, declarou o viúvo à polícia.

Encaminhamento à Justiça

Com a conclusão do inquérito, o caso foi enviado ao Poder Judiciário e ao Ministério Público Estadual (MPE), que devem agora analisar a denúncia. O cirurgião poderá responder judicialmente pelo crime de homicídio culposo, previsto no artigo 121, §3º, do Código Penal.

A morte de Thayane reacende o alerta sobre os riscos de cirurgias plásticas realizadas em clínicas sem estrutura hospitalar completa, e levanta o debate sobre a fiscalização de unidades médicas particulares.

Jornalista: Mika Sbardelott

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