Apontado pela Polícia Civil como figura central de um suposto esquema de desvio milionário da conta única do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), o servidor afastado Mauro Ferreira Filho atuou oficialmente em cargos ligados à área financeira do Judiciário desde 28 de janeiro de 2015, três dias antes do fim da gestão do desembargador Orlando Perri na presidência da Corte. Mauro é alvo da operação Sepulcro Caiado e chegou a ser preso, mas foi solto após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Segundo as investigações, entre 2018 e 2022, o grupo do qual Mauro faria parte teria desviado cerca de R$ 21 milhões por meio de fraudes em 17 processos judiciais. O esquema consistia em ajuizar ações de cobrança e, sem o conhecimento das partes rés, simular a quitação das dívidas com depósitos judiciais falsificados. Em seguida, Mauro supostamente migrava os valores da conta única do TJMT para contas vinculadas aos processos, permitindo o saque por meio de alvarás fraudulentos.
A investigação aponta que todos os documentos falsos enviados ao Banco do Brasil pelo sistema interno do Judiciário foram remetidos exclusivamente por Mauro, evidenciando, segundo o relatório da Polícia Civil, sua “posição de confiança e coordenação dentro do grupo criminoso”. Entre as vítimas identificadas, há empresários e pessoas físicas — uma delas, interditada judicialmente — que tiveram processos em seus nomes com dívidas “quitadas” de até R$ 1,8 milhão, apesar de os débitos originais não ultrapassarem R$ 100 mil.
Trajetória no Judiciário
Servidor estável desde abril de 2003, Mauro ocupou diversos cargos estratégicos no TJMT, como chefe da divisão de execução financeira, diretor do departamento de depósitos judiciais e gerente de execução financeira. Sua lotação formal na Coordenadoria Financeira ocorreu em 28 de janeiro de 2015, após despacho do então presidente Orlando Perri, que afirmou ter apenas atendido a solicitação da chefe do setor, seguindo análise de perfil e formalidades legais.
Desde então, Mauro permaneceu vinculado a funções sensíveis relacionadas à conta única do Tribunal, até ser afastado na semana passada, já no contexto da operação da Polícia Civil.
Afastamento e sindicância
O presidente do TJMT, desembargador José Zuquim Nogueira, determinou o afastamento do servidor por 60 dias, com bloqueio de acesso aos sistemas processuais e administrativos, suspensão do e-mail funcional e do registro de ponto. Uma sindicância investigatória foi aberta para apurar irregularidades em pagamentos de alvarás desde maio de 2011.
Também foi criada uma Comissão Especial de Auditoria para revisar todas as movimentações da conta de depósitos judiciais no período, composta por magistrados e auditores internos, com apoio da diretoria do Departamento de Depósitos Judiciais.
Operação Sepulcro Caiado
Deflagrada pela Polícia Civil, a operação cumpriu mais de 160 ordens judiciais, incluindo 11 prisões preventivas, 22 mandados de busca e apreensão e 16 bloqueios judiciais que somam R$ 21,7 milhões. Também houve o sequestro de 18 veículos e 48 imóveis, além da quebra de sigilo fiscal e bancário de investigados.
O servidor, que estava foragido, se apresentou à polícia em 7 de agosto de 2025, acompanhado de advogado, e optou por permanecer em silêncio. A defesa não foi localizada pela reportagem.
Jornalista: Luan Schiavon